Tese analisa comportamento dos eleitores ao votar em corruptos

Agraciado com menção honrosa pela Capes, estudo baseia-se em evidências experimentais sobre as limitações do voto no combate à corrupção.

No domingo 27 de outubro, eleitores de 51 municípios brasileiros vão mais uma vez às urnas, dessa vez para votar no segundo turno para prefeito.

Desses 51 municípios, 15 são capitais, entre elas São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS). As demais 11 capitais encerraram as disputas no primeiro turno.

Só realizam segundo turno os municípios com pelo menos 200 mil eleitores. Nessa etapa, concorrem os dois candidatos a prefeito mais bem votados do primeiro turno, mas que não alcançaram metade dos votos válidos (excluídos votos brancos e nulos).

No primeiro turno, 5.569 cidades do país foram às urnas para votar em candidatos a vereador e prefeito.

As campanhas político-partidárias divulgaram os candidatos aos cargos de prefeito e vereador, muitos deles já conhecidos no cenário político da região em que atuam. Em meio às propagandas, o eleitor também se depara com inúmeras mensagens de origem duvidosa, fake news e vídeos ou áudios controversos. Em geral, opositores acusam uns aos outros, sendo a corrupção a principal temática nessa arena eleitoral.

Diante desse cenário, indagar porque os corruptos são eleitos pode se tonar uma daquelas perguntas retóricas sem resposta que revelam nada mais do que um complexo dilema social. Mas foi buscando responder essa e outras questões que foi desenvolvida a tese Por que votamos em corruptos? Evidências experimentais sobre as limitações do voto no combate à corrupção; que está entre as cinco da Universidade de Brasília que recebeu menção honrosa na edição de 2020 do Prêmio Capes de Tese.

“Essa é uma pergunta que vem intrigando a ciência política há décadas. Nossa pesquisa investiga as razões do voto em corruptos a partir de três experimentos originais distintos, cada um deles centrado em uma possível razão para uma visão abrangente e multifacetada da questão”, comenta o autor da tese, Thiago de Azevedo Barbosa.

Segundo Barbosa, existem tradicionalmente duas grandes explicações para o fenômeno do sucesso eleitoral de corruptos: “a hipótese da informação, segundo a qual as pessoas votam por desconhecerem que seu candidato é desonesto, e a hipótese da troca explícita, quando os eleitores foram informados da corrupção do seu candidato mas votam nele mesmo assim por acreditar que ele ‘compensa’ esse defeito com outras qualidades, como uma maior afinidade ideológica ou maior competência administrativa”.

Uma terceira explicação, ainda pouco estudada, seria a da corrupção generalizada. “Essa leva em conta o contexto eleitoral e investiga como a percepção de que todos ou quase todos são corruptos influencia na decisão eleitoral”, informa.

A percepção da corrupção no comportamento eleitoral vem sendo investigada recentemente e enquanto alguns teóricos defendem que ela pode levar o eleitor a se engajar ainda mais para combater o problema, outros apontam que o eleitor pode ser levado a desconsiderar a questão.

“Nossos resultados indicam que quanto mais a corrupção é percebida como generalizada, menores tendem a ser o engajamento eleitoral e a punição eleitoral ao candidato corrupto, representando mais abstenção e votos nulos ou em branco”, expõe.

Afinal, por que votamos em corruptos? “Porque não sabemos ou acreditamos que o nosso candidato não seja corrupto; porque sabemos, mas achamos que ele compensa esse defeito com outras qualidades; ou simplesmente porque todas as opções disponíveis nos parecem corruptas”, resume o autor em relação à pergunta chave da tese.

Orientador do trabalho de destaque, o professor do Instituto de Ciência Política (Ipol) Mathieu Turgeon considera que a corrupção não é só um problema sério na política brasileira, como também traz altos custos de curto, médio e longo prazos para a sociedade. “Esse trabalho busca entender porque corruptos conseguem se eleger e reeleger no Brasil. É inovador porque preenche lacunas na literatura atual”, alega.

Crédito: Claudio Vieira repórter/Secom UnB
Texto na íntegra: https://www.unbciencia.unb.br/humanidades/91-ciencia-politica/662-tese-busca-entender-comportamento-dos-eleitores-ao-votar-em-corruptos

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