Por um cronista ferido pela indiferença.
Na beira serena do Araguaia, onde o vento costuma levar as memórias e devolver poesia, uma dissonância ecoou mais alto que qualquer acorde. Na noite que prometia ser festa, a cidade virou o rosto para seus próprios filhos; Candinho, Divino e Eudes, o Trio C D E, que há anos tece, com voz e violão, a trilha sonora de nossa identidade.

Foi como plantar rosas e esperar que florescessem em chão de sal. A Secretaria de Turismo de Aragarças, em um ato que mistura descuido com cegueira institucional, marcou o show dos três músicos na temporada de praia no mesmo compasso em que Henrique e Juliano embalavam multidões em Barra do Garças. E então, os aplausos que deveriam acolher nossos artistas foram soprados para longe, levados pelas buzinas e pelos gritos de um show que não era nosso.
Não se trata de concorrência; trata-se de respeito. Não se cobra da terra que germine se a semente é enterrada sob pedras. O show do Trio C D E, que deveria ser celebrado com palmas, abraços e lágrimas nostálgicas, foi deixado à deriva. Vinte pessoas. Vinte almas corajosas resistindo ao silêncio constrangedor de uma plateia esvaziada pela falta de planejamento.

E o que dizer dos gestores? Ausentes. Nem uma presença simbólica para dignificar o esforço, para reconhecer o valor simbólico daquele palco montado à beira da história. O prefeito, a primeira-dama, os secretários, vereadores ninguém apareceu para testemunhar a poesia sendo abandonada à própria sorte.
E pensar que aquelas canções; aquelas melodias com cheiro de estrada de chão, com sotaque de rio Araguaia; já embalaram amores, comícios, festas de Santo Antônio e verões inteiros no coração de Goiás. Eram notas carregadas de memória, mas ninguém quis escutá-las desta vez.
A noite de 19 de julho de 2025, não foi apenas uma falha no calendário: foi uma ferida no coração cultural de Aragarças. E talvez, para os desavisados, seja apenas uma crônica triste. Mas para quem conhece o peso de cada acorde que vem da terra, foi uma tragédia anunciada, um erro que desafina a esperança.
Tomara que da dor floresça reflexão. E que no próximo acorde, alguém escute; antes que o silêncio tome conta de vez.
Por: Hélio Fernando de Almeida Gomes