Até então, em Aragarças, não havia registro de nenhum vereador afastado; ou cassado; por cumprir exatamente aquilo que a Constituição manda; fiscalizar o Executivo. Mas o ineditismo político da cidade segue firme e criativo.
Desta vez, o alvo é o vereador Júnior do Saião, acusado não por corrupção, improbidade ou rachadinha, mas por; pasmem; ter ido verificar uma denúncia de uso indevido de veículo público. Em outras palavras, o vereador está sendo investigado por fazer o seu trabalho.
Na 32ª Sessão Legislativa Ordinária, realizada em 13 de outubro de 2025, a Câmara de Aragarças protagonizou um daqueles episódios que mereciam virar caso de estudo sobre a inversão de valores na política local. A denúncia contra o parlamentar foi lida em plenário e, em votação, apenas as vereadoras Ana Paula Paulino e Maria Rosa se opuseram ao afastamento. O vereador José Carlos Leão não compareceu, e o presidente Nego Leão, em postura neutra ou estratégica, não votou.
Os demais: Elenilton Cristiano, Jerônimo Neto, Ronaldo Rodrigues, Hudson Manteguinha, Duda e Fabrício Martins, votaram a favor do afastamento.
Enquanto isso, casos mais robustos, recheados de indiciamentos por corrupção, formação de quadrilha e fraude eleitoral, seguem adormecidos em gavetas e manchetes esquecidas. Há inclusive vereador indiciado pela Polícia Civil, afastado, mas que ainda mantém o mandato intacto, como se nada tivesse acontecido, e outro vereador que está sendo investigado pela Polícia Federal — leia-se Operações Maracutaia e Sufrágio, respectivamente.
E assim, Aragarças conquista mais um feito: é a única cidade do Brasil onde a Câmara Municipal abre uma CPI para investigar um ato de fiscalização. Um paradoxo perfeito; digno de Oscar político; em que o fiscal vira o acusado, e o dever vira crime.
No fim das contas, o episódio da Casa Lar, que começou como denúncia do prefeito nas redes sociais, virou munição política. E a Câmara, que deveria zelar pela transparência, acabou abrindo um processo para investigar a transparência.
Aragarças segue inovando. Aqui, o pecado não é prevaricar; é fiscalizar demais.