Quem não se lembra da Operação Em Nome do Pai, deflagrada pela Polícia Civil de Aragarças em setembro de 2024? Aquela mesma que virou assunto em todos os grupos de WhatsApp da cidade. Depois das buscas e apreensões de celulares e computadores, o prefeito, num gesto digno de filme policial, afastou quatro servidores suspeitos de envolvimento no esquema que investiga fraudes em licitações na Prefeitura.
Entre os investigados, uma figura curiosa; o filho de um secretário municipal, que, por acaso (ou não), é pastor de uma igreja evangélica. A pergunta que ecoa pelos corredores da cidade é uma só; será que o envolvimento de membros dessa denominação religiosa em escândalos de corrupção tem algo a ver com o fato de o prefeito também ser pastor? Ou será apenas mais uma coincidência divina?
Em Aragarças, a fé parece ter se tornado ferramenta política. Membros dessas igrejas, além de fiéis dedicados, são também cabos eleitorais ferrenhos e, quando “iluminados”, atuam como denunciantes sob medida. Afinal, nada mais sagrado do que usar o púlpito para cumprir a “vontade” do chefe.
E agora vem a cereja do bolo; o vereador Júnior do Saião foi afastado por 90 dias por denúncia feita justamente por um membro dessa igreja, a do pastor-secretário municipal, pai do investigado na Operação Em Nome do Pai. Coincidência demais para quem acredita em milagres seletivos. Basta lembrar também do caso do ex-vereador Rones Clay, outra vítima do rolo compressor “ungido”, para perceber que em Aragarças o milagre da multiplicação é real, ao menos quando se trata de processos e perseguições.
No fim das contas, fica a lição; quando o púlpito vira palanque e o “amém” serve de aplauso político, a fé deixa de salvar e passa a servir. E o povo aragarcense, cansado dessa mistura de Bíblia e balcão de negócios, começa a pedir o óbvio; a separação urgente entre o sagrado e o suspeito.