Ricardo Rogers & Cláudio Vieira
Aragarças, 14/05/2024 – Em um flagrante que levantou debates sobre a gestão ambiental na cidade de Aragarças, nossa equipe de reportagem testemunhou uma tentativa controversa da Gestão Municipal de recuperar a Praia Quarto Crescente por meio do uso de maquinários.
À medida que a natureza continua a sua transformação implacável, a margem do rio Araguaia tem testemunhado uma mudança notável ao longo dos anos. Onde antes se estendia uma faixa de areia, agora cresce vegetação nativa, um reflexo das mudanças ambientais desencadeadas em parte pela degradação humana.
A utilização de tratores na remoção dessa vegetação, numa tentativa de restaurar a margem arenosa perdida, se depara com desafios naturais. A resistência da natureza em ceder espaço, transformando gradualmente a área em uma exuberante mata.
Essa ação da Gestão Municipal de Aragarças se desdobra em meio a um contexto de preocupações crescentes sobre a preservação ambiental. A margem do rio Araguaia, um dos últimos refúgios naturais do Brasil, é designada como Área de Preservação Permanente, uma medida destinada a proteger sua rica biodiversidade e ecossistemas delicados.
A cidade de Aragarças, conhecida por suas praias naturais frequentadas por moradores locais e turistas há mais de quatro décadas, tem testemunhado a deterioração gradual desses locais devido ao assoreamento provocado por ações humanas e mudanças ambientais.
O assoreamento diminui a profundidade do leito do rio e a velocidade de fluxo das águas, diminuindo assim a energia e o poder de transporte de sedimentos do rio. Isso aconteceu na foz do rio Garças, o que com certeza contribuiu com o estreitamento e diminuição da extensão da faixa de areia da Praia Quarto Crescente”, afirma o geólogo e doutor em Geociências e Meio Ambiente Silvio Cesar Oliveira Colturato, professor da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Araguaia (UFMT/CUA). Fonte: Semana 7
O site “Mais Araguaia” flagrou a prefeitura de Aragarças utilizando seu maquinário para degradar ativamente as margens do rio, supostamente com o objetivo de criar uma praia artificial.
Essas ações têm sido rotuladas como intervenção criminosa no ciclo natural do rio Araguaia, provocando indignação entre os defensores do meio ambiente e membros da comunidade.
Em 2019, Geólogo argentino visita Aragarças e alerta que rio Araguaia está doente com as praias diminuindo
No ano de 2019, O geólogo e professor da UFG, Maximiliano Bayer (UFG) alertava sobre a praia quarto crescente,
Segundo o professor Maximiliano, que é argentino e que já vive no Brasil há mais de trinta anos, esse problema se deve a ação do homem que vem assoreando o rio e desmatando as margens e nascentes do majestoso Aralguaia. Ele explicou que os sedimentos são compostos, principalmente, de minerais primários (areias quartzosas), que são transportados pelos afluentes até o sistema principal da bacia.
Os estudos realizados por ele nos permitem ter uma visão mais detalhada das alterações e mudanças ambientais que vêm sendo observadas nos últimos anos, sobretudo aquelas associadas ao avanço do agronegócio na alta bacia do Rio Araguaia.
Ora, se as medidas forem concentradas no mês de julho, provavelmente teremos essa visão turística do Araguaia — praias, bancos de areia, grande volume de sedimentos. Mas, e se as medidas são em janeiro? Aquelas praias ficarão cinco ou seis metros abaixo. A dinâmica do rio é muito diferente nesses dois momentos. E quando falamos não apenas de água, mas da quantidade de sedimentos, que podem provocar assoreamento e outros impactos, a coisa fica pior.
Supondo que agora, nesta época o Araguaia deve ter uma vazão de 200 metros cúbicos por segundo, devendo estar levando uma concentração da ordem de 50 miligramas por litro. Com esses dados, podemos calcular que o rio transporte por dia aproximadamente 4 mil toneladas de sedimentos. Se colocarmos isso em caminhões, seria uma fila de 400 veículos. Porém, se fizermos uma modelagem do Araguaia em fevereiro, quando, em vez de 200 metros cúbicos de água, tem vazão de 3,5 mil metros cúbicos e, em vez de 50 miligramas por litro de sedimentos, leva o quádruplo. A fileira subiria para 7 mil caminhões carregados de sedimentos.
Maximiliano Bayer
A preocupação em cuidar das margens do rio Araguaia transcende questões locais e assume um caráter moral, refletindo a urgência de preservar nossos recursos naturais para as futuras gerações. As margens desse rio majestoso não são apenas um símbolo da exuberância da natureza, mas também abrigam uma rica biodiversidade e ecossistemas delicados que sustentam a vida na região.
Diante dos desafios apresentados pela intervenção humana e pelas mudanças ambientais, é imperativo que autoridades, comunidades locais e defensores do meio ambiente unam esforços para proteger e restaurar as margens do rio. Isso requer um compromisso conjunto com práticas de desenvolvimento sustentável, políticas de conservação eficazes e educação ambiental para promover uma coexistência harmoniosa entre o homem e a natureza.
À medida que nos esforçamos para cuidar das margens do rio Araguaia, estamos não apenas defendendo um precioso recurso natural, mas também cultivando um legado de responsabilidade ambiental para as gerações futuras. Em última análise, o destino das margens do rio Araguaia está intrinsecamente ligado ao nosso próprio destino, e é nossa responsabilidade protegê-las com diligência e cuidado.
O site Mais Araguaia não é contra a praia, mas a favor de um turismo sustentável sem agressão à natureza, com projetos de preservação ambiental para as futuras gerações.