Localizado às margens do rio Araguaia, a 20 km da cidade de Aragarças, Goiás, o antigo Cemitério do Deixado, com mais de 120 anos de existência, foi oficialmente tombado como patrimônio histórico por meio da lei municipal n° 2.016 de junho de 2023 de autoria do vereador José Carlos Leão.
O tombamento reflete o reconhecimento da importância cultural, histórica e simbólica do local, que faz parte da memória coletiva da comunidade aragarcense.
Esse ato de preservação garante que o antigo cemitério será protegido contra intervenções que possam comprometer sua integridade ou valor histórico, assegurando sua conservação para as futuras gerações. O antigo Cemitério do Deixado é, agora, um marco que preserva a história local e homenageia as tradições e histórias das pessoas que ali foram sepultadas.
Como sabido, previsto constitucionalmente no artigo 216, § 1º da Carta Magna e disciplinado, em âmbito nacional, pelo Decreto-lei nº 25, de 1937, o tombamento é um processo administrativo por meio do qual o poder público, a fim de proteger bens móveis ou imóveis dotados de valor cultural, reconhece formalmente o especial significado e interesse público do qual se reveste a coisa, que passa a ficar submetida a um especial regime jurídico no que pertine à disponibilidade, à conservação e à fruição, com o escopo de preservar os seus atributos essenciais.
A finalidade do tombamento do Cemitério do Deixado foi pela conservação da integridade do bem acerca do qual houve um destacado interesse público pela proteção em razão de sua característica histórico-cultural, enfatizou Claudemiro Luz.
Histórico:
Conforme registros históricos, a ocupação da corruptela do Deixado iniciou-se em 1872,
quando alguns garimpeiros do municio de Araguaiana, estado do Mato Grosso (IBGE)
subiam o rio Araguaia em busca de locais favoráveis ao garimpo de diamantes encontrou a
região, acima do encontro dos rios Garças e Araguaia. No entanto esses garimpeiros não se
assentaram, o que viria acontecer em grande número somente em 1912 quando o primeiro
grupo de retirantes, composto majoritariamente de mulheres, chega a região.
Fugindo das grandes secas, esses e estas retirantes acabam vindo em grande número para
região até 1929. Em sua maioria estavam próximo ao rio São Francisco, e majoritariamente
pertenciam aos povoados/municípios de Santana dos Brejos, Rio das Éguas (hoje
Correntina), Riachão, São Gonçalo (hoje Serra Dourada) e Bom Jesus da Lapa. Muitos
destes locais, antigas fazendas de senhores de engenho ainda não foram localizadas.
Segundo Dona Sinhá, a viagem não tinha um destino definido, era precária e muitos
morriam.
Durante a década de vinte a corruptela do Deixado começa a receber um grande número de
pessoas em busca de grandes diamantes e de uma melhor qualidade de vida, inclusive a
família de Dona Sinhá que chega a corruptela neste período. Em 1923, segundo as
alimentadoras mais antigas, ocorre a primeira Alimentação das Almas no povoado do
Deixado. E é nessa febre que a riqueza e infraestrutura do povoado começa a se mudar
com a construção de novos espaços de sociabilidade: praça central, Igreja, salão de festas,
cemitério, no mínimo três bordéis, campo de futebol, pensão, casas de alvenaria para os
mais abastados, barracos de pau a pique e barracos simples de palha de buriti, moradia da
maioria da população. Na década de trinta a população aumenta, assim como o comércio e
os serviços, seguindo o garimpo como a principal economia do Deixado. Já em seu auge, na
década de quarenta a corruptela já possui uma pista de pouso para pequenos aviões um
time de futebol, escola, hotéis, açougue, padaria. Segundo Francisco Brasileiro, autor da
única monografia acadêmica realizada sobre a localidade, “curioso, porém, é de notar que nos garimpos do Alto Araguaia, há uma adiantada corutela ( povoação) situada as margens
do grande rio com o nome de Deixado” ( Brasileiro, 1951, 252).
Após a criação da cidade de Aragarças muitos dos moradores desta região vão morar na
recém-inaugurada Aragarças. Devido a proximidade com uma cidade nascida a partir de
projetos governamentais, muitos moravam na cidade e iam para o Deixado diariamente.
Este é o caso de Dona Sinhá e sua família que 1942, inicia uma nova vida em Aragarças.
Nesta cidade, onde permanece, a Alimentação das Almas, já ressignificada à realidade do garimpo, continua a ser praticada por inúmeras alimentadoras, guardando-se o Ofício as Almas a ocorrer durante as Sextas-feiras Santas.
(PROJETO MULHERES DO VALE ARAGUAIA:
Experiências e Vivências em Minha Comunidade do Bacharelado em Museologia da Universidade Federal de Goiás / Agente Jovem de Cultural
SCDC/MinC, TONY BOITA)